15 de janeiro de 2014

Copom: mercado muda da água para o vinho (amargo)

Em dois dias, os investidores que aplicam no mercado de taxa de juros do Brasil mudaram suas posições esperando que o Banco Central seja mais duro na sua decisão sobre a taxa Selic.

Em dois dias, os investidores que aplicam no mercado de taxa de juros do Brasil mudaram suas posições esperando que o Banco Central seja mais duro na sua decisão sobre a taxa Selic. A reunião do Copom que termina na noite desta quarta-feira (15) pode revelar a coragem dos diretores do BC para serem implacáveis com a inflação, tomando medidas impopulares em ano eleitoral.

O mercado está preparado para uma alta de 0,50 ponto percentual na taxa Selic – subindo os juros para 10,50% ao ano.

Até semana passada, muitos bancos e fundos de investimentos mantinham sua expectativa numa alta de 0,25 pontos percentuais. O arrefecimento no ritmo de ajuste da taxa tinha sido incorporado pelo mercado com um sinal de desaceleração da inflação nos meses à frente, aparentemente indicado pelos índices até o final de dezembro.

O próprio BC, em seus dois comunicados oficiais mais recentes – a ata da última reunião do Copom em dezembro e o Relatório Trimestral de Inflação – levou o mercado a aceitar esta versão de acomodação dos preços e, consequentemente, da política monetária.

De repente, um muro. O IPCA de 2013, 5,91%, ficou bem acima do que imaginavam o governo e boa parte dos economistas. A surpresa foi chata por dois motivos. Primeiro porque Alexandre Tombini, presidente do BC, falou e repetiu durante o ano passado que a inflação ficaria menor do que em 2012 – que foi de 5,84%.

Segundo, do ponto de vista técnico mais importante, a inflação dá sinais claros de que não está reagindo às ações do Copom e mostra uma resistência maior em cair. Um dos obstáculos é a inflação de serviços, que roda na casa dos 9% há pelo menos três anos. E, para a taxa de juros, o preço de serviços é um osso duro de roer porque não sofre concorrência com outros produtos e não está sujeito a preços internacionais.

Saindo do campo econômico para o campo político, a percepção sobre a condução da economia piorou de dezembro para cá. As trapalhadas do governo com o resultado das contas fiscais e a constatação de que não há margem de manobra para ajudar o BC a combater a inflação, provocaram uma mudança da água para o vinho na segurança dos investidores – um vinho amargo e que dá ressaca.

Fonte: G1